Quem sou eu

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Uma alma morta porém ressuscitada. Um soldado maníaco com uma metralhadora que cospe fogo e palavras. E nas guerras das palavras eu sou veterano. Eu sou o homem-tigre. Somewhere in hell, i'm still typing.

domingo, 6 de maio de 2012

Manet Fever!


Porque sempre achei Manet um very groovy guy. Então, Manet, onde quer que você esteja, velho de guerra, shake your booty!

obs fora do assunto: será que a turma do Impressionismo, quando queria tirar um sarro com Toulouse-Lautrec, chamava-o de pintor de rodapé? Hmmm...

E CÁ ESTOU


Voltei. Bem, pelo menos em termos. Nunca fui embora de verdade, apenas não dei as caras por aqui. Por quê? O fato é que abro uma porrada de coisas pela net e vou perdendo o contato com elas. Esqueço-me dos meus resquícios e, quando me lembro, não sei mais a senha nem o login. Só posso olhar, como alguém diante de uma sepultura. Mas isso não me incomoda. Não como incomoda algumas pessoas. E agora digo de novo: por quê? Porque acho importante você se destruir de vez em quando; simplesmente eliminar todos os seus traços, todos os registros da sua existência e todas as lembranças que as pessoas possam nutrir de você. Ao retornar, será apenas você e só você. Sem ninguém. Sem elogios, críticas, porra nenhuma. É aí que você sabe se tem fôlego. Eu tenho muito fôlego e pouca paciência.
      E agora entram as explicações. Nunca deixei de escrever. Só que nos últimos anos, escrevo como escrevia quando tudo começou: mais para mim mesmo que para qualquer outra pessoa. Escrever, meus amigos, não é um ato de amor, é um ato de masturbação. Isso pode diminuir o sexo, mas não diminui a escrita. Quanto aos vídeos, simplesmente não é a minha praia. Posso fazer um ou outro esporadicamente, quando dá vontade, mas jamais será um compromisso. Não é a minha.
      Outra questão que entra no jogo é o fator tempo. Aos 20 anos é mole ficar escrevendo e blogando o dia inteiro. Aos 33, quase 34, a coisa se torna um pouco mais complicada, afinal de contas, preciso ganhar o meu dinheiro. Diabos, e também gosto de ganhá-lo! Nunca consegui extrair grana da escrita. E falo isso sem qualquer rancor. Sei que é o grande motivo da frustração de quase todos os escritores, mas, acredite, isso nunca me frustrou. Como jamais esperei dinheiro da literatura, ela não me decepcionou nesse quesito. O que não significa que eu não espere que o dinheiro chegue por outras vias. Eu espero e ele chega. Isso reduz um bocado o tempo que dedico aos parágrafos. Isso não é nenhum crime. Você pararia de trabalhar? Pois é, foi o que pensei.
      Já que mencionei que tenho 33 anos, vamos entrar nesse assunto. Sim, tenho 33 anos, então chega desse papo de “jovem escritor”, “promessa literária”, “um grande futuro pela frente” e o caralho a quatro, tá legal? Vocês já me enchem com isso há mais de uma década. Acho que já está meio fora do contexto.
      Não tenho mais nada para explicar. Era só isso: a) nunca parei de escrever, só parei de mostrar a você; b) não vou deixar de mostrar a você, mas não me comprometo com datas e prazos (artistas que se dão por inteiro à arte são muito nobres, mas costumam ter problemas para se sustentar; se Rimbaud dispensou esse destino na boa, pode apostar que não penso duas vezes); c) quem está escrevendo, aqui do outro lado da net, é um cara nas bocarras de fazer 34 anos, já vislumbrando a meia-idade do outro lado do túnel; sua imagem do jovenzinho talentoso e cheio de frescor é tão equivocada quanto a imagem que assombra a cabeça do punheteiro no chatline - a imagem da ninfetinha gostosinha e lindinha de camisola branca - quando do outro lado está um gordo suado, de barba por fazer, dentro de um quarto escuro que cheira a peido.
      E é só isso. É bom estar de volta, mesmo nunca tendo partido. Também é estranho entrar nesse blog novamente. É como entrar numa casa depois de anos viajando. O lugar todo cheira à naftalina e algumas peças da decoração já estão ultrapassadas. Esse fundo preto por trás das letras brancas ferra com meus olhos. Vou me livrar dele na 1ª oportunidade. E alguns títulos... Há certas coisas que não reconheço mais. Não me reconheço nelas. Não falo dos textos, mas de diagramação, gravuras e etc e etc. Sinto-me olhando para um par de cortinas elegantes colocado na minha sala por um decorador profissional. Pode ser bonito, mas não sou eu. É questão de tempo para o lugar começar a feder à minha pessoa... e o par de cortinas ir embora.
      Por enquanto, quem vai embora sou eu. Tchau.

sexta-feira, 11 de março de 2011

quarta-feira, 9 de março de 2011

domingo, 7 de junho de 2009

O ESQUEMA

Sentei-me num banco da praça e permaneci por duas horas. Ainda estava dia, e quando me levantei já era noite. Uma noite imperceptível, como tantas outras.
Em cidades pequenas a rotina se torna mais visível. A rotina se revela inteira, sem vergonhas ou segredos, diante dos nossos olhos. As grandes metrópoles também são pontuadas pela rotina, mas nas cidades pequenas não podemos desviar os olhos dela. É impressionante; tudo o que você vê, você já viu antes.
As pessoas parecem ligadas por telepatia, como uma grande esponja, uma colônia de bactérias, bactérias que juntas tornam-se uma única forma de vida... e bóiam pela água parada, rastejando pelo limo, procurando comida. Como se suas mentes estivessem conectadas umas às outras pela corrente psíquica da rotina.
Subitamente, as ruas vazias se encheram de gente. As pessoas apareceram no mesmo horário; pontuais. Um batalhão de formigas marchando em direção às ruas, todas exatamente no mesmo instante. Era engraçado o modo como as pessoas pareciam ter combinado para surgir naquele mesmo momento. Suas mentes funcionavam como um relógio.
Olhei para um local qualquer de uma esquina qualquer e lá estava o sujeito que todas as noites, no mesmo horário, aparecia por lá e se recostava no poste. Então olhei para os lados e me deparei com os mesmos rostos, sentados nos mesmos bancos, virados para a mesma direção. Era horrível e cômico ao mesmo tempo. Eles não podiam evitar. Eram peças no grande tabuleiro da Rotina.
Você deve estar se perguntando, “por que diabos não fazem alguma coisa para mudar essa condição miserável?” Cara, não seja tão duro com as pessoas. Não vamos condená-las, tá legal? Além do mais, VOCÊ também faz parte do esquema da rotina, e EU também. Não estou salvando os nossos rabos!
Mas não fique aí imaginando que as pessoas não pensam em grandes mudanças. Elas pensam, mas a questão é que as grandes mudanças em que pensam hoje são as mesmas grandes mudanças em que pensaram ontem. Até as mudanças e as guinadas são consumidas pela rotina.
Os carros pareciam iguais e cruzavam as esquinas com seus motores possantes, sempre ultrapassando os mesmos sinais vermelhos. Sabiam que não chegariam longe, por isso não esperavam muito da vida. As conversas da garotada que se aglomerava à minha frente eram as mesmas conversas de todas as noites, e eram acompanhadas por risadas que explodiam exatamente nos mesmos instantes. Se me afastasse deles e me aproximasse do pessoal mais velho, escutaria as mesmas lamentações, as mesmas indignações; todos aqueles ditos adultos com os mesmos problemas. Todos sem cabelos, sem dentes, sem visão, sem sentido, sem esperança, tagarelando com suas vozes tediosas. Nas metrópoles essas coisas se espalham ao longo da orla marítima e dos arranha-céus, nas cidades pequenas fica tudo diante do seu nariz.
Pensei, “que droga, não consigo parar de pensar na rotina, exatamente como faço todos os dias!”. Talvez a rotina seja necessária, seja uma forma de garantir que a chatice será perpetuada através das eras, exatamente como as baratas.
Então apareceu aquele sujeito atravessando a praça: gordo como uma baleia, meia-idade, uma barba gordurosa no rosto, os olhos pequenos atrás dos óculos, os cabelos emaranhados. Carregava uma porção de embrulhos. Tropeçou nos próprios pés e caiu de barriga no chão. Os embrulhos voaram para todos os lados. Sua bunda ficou aparecendo, suada e branca, e os olhos arregalaram quando os embrulhos rolaram pelo chão. Disparei a gargalhar, até que as lágrimas escorressem pelas minhas bochechas. Algo tinha quebrado o esquema.