Nasci em 1978. O filme que estava em cartaz era Os Embalos de Sábado à Noite. Ou talvez Grease. Como no Brasil os filmes chegam atrasados, provavelmente era Os Embalos de Sábado à Noite.
Agora, assisto o presente passar por mim real e indiferente, sempre tão frágil, e penso numa série de coisas. Foi ano de copa do mundo. O Brasil jogava no dia exato em que nasci, na hora exata. Perdeu. De certa forma foi melhor assim, porque fez com que os médicos retornassem à sala de parto.
John Lennon ainda não tinha tomado o tiro na cuca. Ocupava-se em lavar roupa e levar criança pro zoológico. Um tempo depois, no ano em que morreu, lançou o Double Fantasy, um disco impregnado com esse clima de lavar roupa e levar criança pro zoológico, o que de certa forma acabou soando legal. Mas voltando a 78... Elvis ainda estava fresco no caixão. Encontrei com ele. Coincidimos de pegar o mesmo elevador, eu descendo e ele subindo. Elvis olhou pra mim, naquele silêncio dos elevadores, e disse: “E aí garoto, o que é que você vai fazer lá embaixo? Rock?”. Respondi que não sabia o que ia fazer e então ele me desejou boa sorte.
Village People, meu amigo, era a bola da vez!
Ano estranho, o ano em que nasci. Computador era coisa pra maluco espacial. Bill Gates era um carinha qualquer, de espinhas na cara. Ha, ha. Pensar que um dia eu já tive mais grana que ele...
Ainda não estavam armando o rebu das células-tronco, isso porque o super-homem ainda era super-homem.
As pessoas usavam costeletas e golas enormes. Achavam bonito. Mas se você parar pra pensar, nós também achamos bonito um punhado de coisas que logo parecerão sem sentido. A vida se mostra um simples acúmulo de momentos sobrepondo-se uns aos outros, enquanto dizemos um adeus eterno.
Spectroman era o único programa japonês que passava na televisão. Os caras do CHIPS mandavam no pedaço. E na telona Luke Skywalker reinava supremo. Em 78, você precisava saber o que era um sabre de luz.
Aqui pelo Brasil as coisas estavam esfriando. O pessoal já estava cansado de caminhar e cantar, e só queria sentar um pouco, recuperar o fôlego. Ninguém consegue ser tropical o tempo todo. Começávamos a nos conformar com a miséria humana. Depois de levar muita porrada, acabamos chegando à conclusão de que o melhor era imaginar que os murros não passavam de beijos. Que o horror era amor. Que o silêncio era música. Que o VAZIO era TUDO o que existia.
Foi um ano pra lá de estranho.
Fico me perguntando o que faria se enxergasse todas essas coisas no instante do meu nascimento. O que faria se não fosse apenas um bebê e enxergasse o passado e o futuro brilhando com os bisturis, bem à minha frente? Teria noção do que estava por vir? Ah, 1978... você foi só o primeiro deles! Naquela época eu não podia imaginar que estaria aqui, escrevendo confissões para desconhecidos. Naquela época o ano de 78 me passou tão batido, tão efêmero, tão liso quanto a própria vida, que não imaginei que estaria aqui falando dele, vinte e seis anos depois. E você? O que ganhou dos seus dias estranhos? O que define o que você foi e o que vai ser para toda vida? O que viu em primeiro lugar? O que acha que verá por último?
Se algum dia eu encontrar novamente com o Elvis no elevador (desta vez eu subindo e ele descendo) vou desejar-lhe boa sorte. O cara vai precisar. E vou lhe perguntar se vai fazer rock, e ele vai dizer que não, pois já fez isso da última vez.
_ E você, garoto, o que fez lá embaixo? – ele irá me perguntar.
Coçarei o queixo, olharei pensativo para o teto e direi, mais para mim do que para ele: “Taí uma boa pergunta...”
Agora, assisto o presente passar por mim real e indiferente, sempre tão frágil, e penso numa série de coisas. Foi ano de copa do mundo. O Brasil jogava no dia exato em que nasci, na hora exata. Perdeu. De certa forma foi melhor assim, porque fez com que os médicos retornassem à sala de parto.
John Lennon ainda não tinha tomado o tiro na cuca. Ocupava-se em lavar roupa e levar criança pro zoológico. Um tempo depois, no ano em que morreu, lançou o Double Fantasy, um disco impregnado com esse clima de lavar roupa e levar criança pro zoológico, o que de certa forma acabou soando legal. Mas voltando a 78... Elvis ainda estava fresco no caixão. Encontrei com ele. Coincidimos de pegar o mesmo elevador, eu descendo e ele subindo. Elvis olhou pra mim, naquele silêncio dos elevadores, e disse: “E aí garoto, o que é que você vai fazer lá embaixo? Rock?”. Respondi que não sabia o que ia fazer e então ele me desejou boa sorte.
Village People, meu amigo, era a bola da vez!
Ano estranho, o ano em que nasci. Computador era coisa pra maluco espacial. Bill Gates era um carinha qualquer, de espinhas na cara. Ha, ha. Pensar que um dia eu já tive mais grana que ele...
Ainda não estavam armando o rebu das células-tronco, isso porque o super-homem ainda era super-homem.
As pessoas usavam costeletas e golas enormes. Achavam bonito. Mas se você parar pra pensar, nós também achamos bonito um punhado de coisas que logo parecerão sem sentido. A vida se mostra um simples acúmulo de momentos sobrepondo-se uns aos outros, enquanto dizemos um adeus eterno.
Spectroman era o único programa japonês que passava na televisão. Os caras do CHIPS mandavam no pedaço. E na telona Luke Skywalker reinava supremo. Em 78, você precisava saber o que era um sabre de luz.
Aqui pelo Brasil as coisas estavam esfriando. O pessoal já estava cansado de caminhar e cantar, e só queria sentar um pouco, recuperar o fôlego. Ninguém consegue ser tropical o tempo todo. Começávamos a nos conformar com a miséria humana. Depois de levar muita porrada, acabamos chegando à conclusão de que o melhor era imaginar que os murros não passavam de beijos. Que o horror era amor. Que o silêncio era música. Que o VAZIO era TUDO o que existia.
Foi um ano pra lá de estranho.
Fico me perguntando o que faria se enxergasse todas essas coisas no instante do meu nascimento. O que faria se não fosse apenas um bebê e enxergasse o passado e o futuro brilhando com os bisturis, bem à minha frente? Teria noção do que estava por vir? Ah, 1978... você foi só o primeiro deles! Naquela época eu não podia imaginar que estaria aqui, escrevendo confissões para desconhecidos. Naquela época o ano de 78 me passou tão batido, tão efêmero, tão liso quanto a própria vida, que não imaginei que estaria aqui falando dele, vinte e seis anos depois. E você? O que ganhou dos seus dias estranhos? O que define o que você foi e o que vai ser para toda vida? O que viu em primeiro lugar? O que acha que verá por último?
Se algum dia eu encontrar novamente com o Elvis no elevador (desta vez eu subindo e ele descendo) vou desejar-lhe boa sorte. O cara vai precisar. E vou lhe perguntar se vai fazer rock, e ele vai dizer que não, pois já fez isso da última vez.
_ E você, garoto, o que fez lá embaixo? – ele irá me perguntar.
Coçarei o queixo, olharei pensativo para o teto e direi, mais para mim do que para ele: “Taí uma boa pergunta...”
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ResponderExcluirOi Daniel. Cheguei ao seu blog via o da sua mãe. Vou precisar de um tempão pra ler tudo, mas uma hora eu dou conta. Pelo que tenho notado, ao mesmo tempo em que você tem uma certa doçura (até na raiva), você também tem um ritmo muito particular de narrativa, bastante intenso. Boa mistura, gosto disso. Eu também escrevo e tenho um blog: stravinskaia.wordpress.com . Estou começando com esse blog, nem tem muita coisa por lá. Mas ficaria muito feliz com sua visita. Beijos, Lid.
ResponderExcluirAdorei o texto!Um dos melhores,gosto do seu sarcasmo literario,Hehehehe
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ResponderExcluirTambém sou de 78 e nunca tinha pensado tanto sobre esse ano... Pelo menos, não de forma tão inusitada...
ResponderExcluirRecebi por email seu texto "O amor é um ônibus lotado" (perfeito!) e acabei aqui.
Ao contrário dos seus "seguidores", ainda não te vejo como um guru de almas perdidas, mas já vou me tornando mais uma fã dos seus textos e da ficcionalidade do seu ser.
Abração!