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Uma alma morta porém ressuscitada. Um soldado maníaco com uma metralhadora que cospe fogo e palavras. E nas guerras das palavras eu sou veterano. Eu sou o homem-tigre. Somewhere in hell, i'm still typing.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Você esqueceu o ketchup!


Essa aconteceu com um amigo meu. Ele estava na casa de uma turma de amigos, vocês sabem, se divertindo no fim de semana e tudo mais. Era aquela época da vida em que a gente se diverte simplesmente por estar entre amigos. Depois dessa fase, a diversão vai se tornando cada vez mais difícil.
O pessoal começou a ficar com fome lá por volta das onze da noite e resolveu que ia comprar uns hambúrgueres. Não era uma boa idéia, pois esse meu amigo não tinha nada nos bolsos. “Já que não tem dinheiro, então é você que vai até a lanchonete pegar os hambúrgueres!”, um deles ordenou.
E lá foi ele, completamente sozinho pelas ruas do bairro nas altas horas da noite, atravessando o centro de sua cidade para pegar hambúrgueres. Se pelo menos tivesse um carro, as coisas seriam mais fáceis.
Todos vocês já perambularam por aí numa noite de sábado, e sabem como é. Os sábados à noite são para os sujeitos com grana ou com namorada, ou com as duas coisas. Meu amigo não tinha nem uma coisa nem outra, era apenas um moleque de dezessete anos indo rumo à lanchonete.
_ Cinco hambúrgueres e cinco guaranás, por favor.
O funcionário o olhou indiferente, fez suas contas, pegou a grana da vaquinha e deu-lhe um saco com uma pilha de hambúrgueres embrulhados para viagem.
Foi quando esse meu amigo teve a péssima idéia de pegar um atalho para chegar mais rápido.
Assim que entrou naquela rua escura, um sujeito mal-encarado o abordou e apontou um revólver em seu peito.
_ Passa a grana!
Como vocês já sabem, não havia grana. E o dinheiro da vaquinha tinha ido embora com os hambúrgueres.
_ Então passa essa camisa! – gritou o assaltante.
Era uma camiseta simples, daquelas compradas em atacado, e o cara não se deu por satisfeito. Não ia levar apenas uma simples camisa para casa.
_ Passa a calça também!
O problema é que o meu amigo estava sem cueca. Tinha caído na piscina usando sua cueca como sunga, e agora ela secava no varal da casa da turma.
_ Pelo amor de Deus, a calça não! – ele implorava para o assaltante.
O sujeito engatilhou o revólver e gritou “passa logo essa calça!”.
Sem outra opção, ele tirou a calça e a entregou para o assaltante, ficando completamente pelado no meio da rua.
Estar a pé, no centro da cidade, sem nenhuma roupa, após voltar da lanchonete, é o tipo de experiência que um garoto de dezessete anos não precisa passar.
Sem esperar por ajuda, ele disparou na direção da casa da rapaziada. Ao avistarem aquele cara nu correndo, segurando o saco (de hambúrgueres!), as pessoas abriam caminho e gritavam. Algumas começavam a rir e soltavam piadinhas do tipo “ei, você esqueceu o ketchup!”.
Foram os quatro quarteirões mais longos de sua vida. E também foi o saco de hambúrgueres mais pesado que carregou.
Chegou na casa dos amigos suado e ofegante, além de pelado, naturalmente. Tocou o interfone e gritou chorando para que lhe abrissem a porta. Seus amigos estranharam o desespero na sua voz e hesitaram antes de abrir, o que só serviu para aumentar seu suplício.
Ele era um moleque de dezessete anos sem grana e sem namorada, que tinha atravessado nu o centro da cidade num sábado à noite. Esse era um bom motivo para nunca mais sair de casa. Às vezes a vida te sacaneia pra valer.
A rapaziada abriu a porta e pulou para trás ao ver que ele estava pelado. Ofegante e muito furioso, ele entrou pela sala sem importar-se com o fato de estar nu, entregou com violência o embrulho da lanchonete, e então gritou: “Taí os seus hambúrgueres!”. Tinha esquecido o ketchup.

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