Ela foi a coisa mais bonita que vi na faculdade. E se quer saber, não apenas na faculdade; digo com certeza que ela foi a coisa mais bonita que vi nessa cidade.
Apesar de estudar de manhã, naquele período eu estava fazendo uma matéria à noite, porque as vagas para o turno da manhã já tinham acabado. Então eu estava lá, esperando a aula começar, quando a encontrei nos portões do prédio. Não era uma garota universitária, ainda estava no colégio, e entregava folhetos de uma festa para a turma de estudantes. Ela segurava os folhetos e os entregava, e sorria com um sorriso plácido, e então olhava para frente, tímida. A imagem mais bonita que já vi. Não era simplesmente uma garota, mas uma musa, que me preenchia com palavras e poemas com sua presença. As pessoas passavam e a encaravam, sabiam que ela era linda (seria preciso ser um cego para não perceber), mas apenas eu enxergava a musa por detrás da menina linda.
Sentei-me na mureta de pedra para contemplá-la. Ela era como um sonho, uma pintura, traçada por artistas videntes. A maneira como ela sorria, serena e séria, o movimento do seu corpo ao entregar os folhetos, o desviar furtivo dos seus olhos, as roupas de rock’n roll que vestia, a mochila nas costas, a lua vermelha refletindo nos cabelos até a cintura, tudo nela era um poema.
Um cara da minha sala passou por mim e falou “ei, a aula vai começar, você não vem?”.
_ Daqui a pouco – eu disse.
Agora tenho que te contar um segredo. Para ser sincero, eu já a tinha visto algumas vezes pelas ruas, e sempre desejei conhecê-la, mas cada vez que a encontrava era como se fosse a primeira vez. Ela era sempre um mistério feito de beleza, uma novidade, sempre nova e surpreendente. Vê-la na faculdade era como uma charada do destino, como se algo me dissesse que eu precisava conhecê-la. Era isso, eu precisava conhecê-la.
Outro sujeito passou por mim, vindo do bebedouro, e falou:
_ Cara, você está perdendo muita matéria. A aula começou faz tempo. O que é que você está vendo por aqui?
Olhei para a minha musa, para aquele sorriso de Mona Lisa, para aquela ninfa de Botticelli, e disse:
_ O que estou vendo aqui? Alegria. Vê?
Ele me olhou espantado e murmurou algo como “que maluco”.
Olhei para o relógio. A aula tinha realmente começado fazia tempo. Não importava. Sentia-me um poeta e só a musa importava. Perderia a aula de bom grado. Para as musas, os artistas se dão em sacrifício. Às vezes isso significa a loucura, outras vezes, as trevas, ou a solidão... Às vezes significa perder a aula na faculdade. Como eu disse, não importava.
As horas passaram e não a conheci. A lua intensificou-se no céu, e refletia os raios vermelhos nos cabelos da musa. E a aula acabou, e outra aula começou, e continuei ali, olhando para ela, com a certeza de estar fazendo a coisa certa.
Lá pelas tantas, assim que os folhetos acabaram, ela ajeitou a mochila nas costas. Foi embora e me deixou ali, sentado naquela mureta de pedra. O último estudante deixou a faculdade, passou por mim e disse “você é um desocupado”. Ele tinha razão. Eu era um desocupado, mas encontrara uma musa. Só faltava conhecê-la. Desci a pirambeira da faculdade com a cabeça e o coração girando em mil poemas, murmurando coisas a respeito da lua e das musas e de Botticelli e de como ela era linda, dona de uma beleza etérea.
As musas não são tocadas. Não podem ser tocadas pela morte, ou pelo tempo, ou pela banalidade. As musas são tocadas somente pela arte.
Apesar de estudar de manhã, naquele período eu estava fazendo uma matéria à noite, porque as vagas para o turno da manhã já tinham acabado. Então eu estava lá, esperando a aula começar, quando a encontrei nos portões do prédio. Não era uma garota universitária, ainda estava no colégio, e entregava folhetos de uma festa para a turma de estudantes. Ela segurava os folhetos e os entregava, e sorria com um sorriso plácido, e então olhava para frente, tímida. A imagem mais bonita que já vi. Não era simplesmente uma garota, mas uma musa, que me preenchia com palavras e poemas com sua presença. As pessoas passavam e a encaravam, sabiam que ela era linda (seria preciso ser um cego para não perceber), mas apenas eu enxergava a musa por detrás da menina linda.
Sentei-me na mureta de pedra para contemplá-la. Ela era como um sonho, uma pintura, traçada por artistas videntes. A maneira como ela sorria, serena e séria, o movimento do seu corpo ao entregar os folhetos, o desviar furtivo dos seus olhos, as roupas de rock’n roll que vestia, a mochila nas costas, a lua vermelha refletindo nos cabelos até a cintura, tudo nela era um poema.
Um cara da minha sala passou por mim e falou “ei, a aula vai começar, você não vem?”.
_ Daqui a pouco – eu disse.
Agora tenho que te contar um segredo. Para ser sincero, eu já a tinha visto algumas vezes pelas ruas, e sempre desejei conhecê-la, mas cada vez que a encontrava era como se fosse a primeira vez. Ela era sempre um mistério feito de beleza, uma novidade, sempre nova e surpreendente. Vê-la na faculdade era como uma charada do destino, como se algo me dissesse que eu precisava conhecê-la. Era isso, eu precisava conhecê-la.
Outro sujeito passou por mim, vindo do bebedouro, e falou:
_ Cara, você está perdendo muita matéria. A aula começou faz tempo. O que é que você está vendo por aqui?
Olhei para a minha musa, para aquele sorriso de Mona Lisa, para aquela ninfa de Botticelli, e disse:
_ O que estou vendo aqui? Alegria. Vê?
Ele me olhou espantado e murmurou algo como “que maluco”.
Olhei para o relógio. A aula tinha realmente começado fazia tempo. Não importava. Sentia-me um poeta e só a musa importava. Perderia a aula de bom grado. Para as musas, os artistas se dão em sacrifício. Às vezes isso significa a loucura, outras vezes, as trevas, ou a solidão... Às vezes significa perder a aula na faculdade. Como eu disse, não importava.
As horas passaram e não a conheci. A lua intensificou-se no céu, e refletia os raios vermelhos nos cabelos da musa. E a aula acabou, e outra aula começou, e continuei ali, olhando para ela, com a certeza de estar fazendo a coisa certa.
Lá pelas tantas, assim que os folhetos acabaram, ela ajeitou a mochila nas costas. Foi embora e me deixou ali, sentado naquela mureta de pedra. O último estudante deixou a faculdade, passou por mim e disse “você é um desocupado”. Ele tinha razão. Eu era um desocupado, mas encontrara uma musa. Só faltava conhecê-la. Desci a pirambeira da faculdade com a cabeça e o coração girando em mil poemas, murmurando coisas a respeito da lua e das musas e de Botticelli e de como ela era linda, dona de uma beleza etérea.
As musas não são tocadas. Não podem ser tocadas pela morte, ou pelo tempo, ou pela banalidade. As musas são tocadas somente pela arte.
Ola,
ResponderExcluirGostei de seu blog, que conheci por sua mae.
Belos textos. Com a depressao dos 30 anos. boa noticia é que daqui a pouco melhora. E sabe por quê? Porque você descobre que nao adianta, nao vem nada nem ninguém te ajudar. Ai, so tem dois caminhos. Um éo escolhido pelo personagem de "30 anos esta noite". Você viu? Eu vi aos 20 e disse logo que nao seria meu caminho. O outro é dizer "pode vir quente que eu estou fervendo". Maneira de falar, claro, porque na maioria das vezes a gente tem nesses casos um foguinho baixinho e olhe la. Mas da conta. A idéia é essa, dar conta. O célebre "xa comigo".
Bom, é o que tento fazer. Quem sabe, dia desses, é você que vai a minha page dizer "guenta firme, ô tia"?
Bises,
Eliana
cadernodeparis. blogspot.com
PS: quanto ao amor, se a gente descer do ônibus, lotado, e pegar uma bicicleta, às vezes chega muito bem.
Ola,
ResponderExcluirGostei de seu blog, que conheci por sua mae.
Belos textos. Com a depressao dos 30 anos. boa noticia é que daqui a pouco melhora. E sabe por quê? Porque você descobre que nao adianta, nao vem nada nem ninguém te ajudar. Ai, so tem dois caminhos. Um éo escolhido pelo personagem de "30 anos esta noite". Você viu? Eu vi aos 20 e disse logo que nao seria meu caminho. O outro é dizer "pode vir quente que eu estou fervendo". Maneira de falar, claro, porque na maioria das vezes a gente tem nesses casos um foguinho baixinho e olhe la. Mas da conta. A idéia é essa, dar conta. O célebre "xa comigo".
Bom, é o que tento fazer. Quem sabe, dia desses, é você que vai a minha page dizer "guenta firme, ô tia"?
Bises,
Eliana
cadernodeparis. blogspot.com
PS: quanto ao amor, se a gente descer do ônibus, lotado, e pegar uma bicicleta, às vezes chega muito bem.
hehehe.
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