Algumas vezes você simplesmente está otimista. Um otimismo bobo sem qualquer significado, frágil e irrelevante como um vaso de cristal barato. Ainda assim, você veste sua melhor roupa e tudo está bem. São momentos em que você não tem dor de cabeça, e sorri para todo mundo. Tudo está perfeito, mesmo no calor mais forte dos últimos tempos, mesmo na falta d’água que o impede de tomar banho e faz com que você saia na rua maltrapilho, fedendo como um cachorro vira-lata cheio de sarnas. São dias no meio da semana que soam como um sábado de sol ou uma noite de sexta.
Geralmente as pessoas não correspondem ao seu otimismo. Olham para você como se diante de um maníaco perigoso ou, na melhor das hipóteses, de alguém digno de pena.
Não é novidade para ninguém que a incompreensão gera a hostilidade. Quando farejam o seu otimismo as pessoas tentam derrubá-lo, tentam colocar você pra baixo. É como nas novelas, onde o vilão planeja frustrar os planos do mocinho e tomar-lhe a mocinha dos braços. É assim que acontece na vida real.
As pessoas são zumbis. Elas acordam cheias de lamúrias e se arrastam pelas calçadas, como se carregassem bigornas nas costas. Caminham para o trabalho com os corpos curvados, os olhos ardendo, farejando felicidade. E quando encontram alguém repleto de otimismo, tentam transformá-lo no que elas são: zumbis... Pobres zumbis infelizes.
Você entra numa sala cheia de gente infeliz e todos o cumprimentam com sorrisos ensaiados. Dirigem-se à prateleira de cds e colocam um Paranoid pra tocar no volume mais alto, logicamente tentando te enlouquecer. No entanto, a música é música para os seus ouvidos. E você diz que Paranoid é sua canção preferida do Sabbath, e pede uma bebida para o anfitrião. Todos olham para você como se quisessem matá-lo. O dia passa e chega a noite. E ela passa e você vai embora numa escuridão sem lua, sentindo-se feliz por existir, por ser quinta-feira, pelo ar do novo século. Sentindo-se um tremendo de um sortudo.
Você já deve estar percebendo que o objetivo dos infelizes, dos zumbis, não é frustrar as suas metas, não, é mais sutil que isso. Eles não pretendem roubar a sua namorada ou fazer com que você seja despedido do trabalho ou viciá-lo em água tônica. Essas coisas são pretextos. O que querem mesmo é reduzir sua alma a um caco. Querem que você se arraste para casa reclamando da dor nas costas e que case com uma baranga e sente na poltrona para o resto da vida. O verdadeiro objetivo dos zumbis é acabar com o seu otimismo, eles sabem que o otimismo gera realização, até mesmo aqueles otimismos vagabundos que se parecem com bibelôs baratos.
Eles não suportam esse tipo de coisa, pois a subvida dos zumbis resume-se a contar os comprimidos, decorar o caminho de casa, abaixar o volume do aparelho de som e fundar partidos políticos para que possam balançar alguma droga de uma bandeira.
Então é isso aí, cara, continue otimista. Mas cuidado para não se tornar um daqueles vasos de cristal balançando na beira da estante.
Jamais desista. A desistência é uma maneira covarde de sair pelos fundos. A desistência é a porta da casa dos zumbis, é o quintal esculhambado da chácara dos pobres coitados que se debatem pela vida. É como dizia o tal do Dante, na porta do inferno está escrito: aqui entram aqueles que perderam a esperança.
Até outra hora, cara. E não pegue a saída dos fundos, não pegue a saída mais fácil, a saída de serviço, aquela que vai desembocar numa droga de um beco sujo pela chuva, onde o pessoal senta para chorar.
Quem sou eu
- Daniel Frazão
- Uma alma morta porém ressuscitada. Um soldado maníaco com uma metralhadora que cospe fogo e palavras. E nas guerras das palavras eu sou veterano. Eu sou o homem-tigre. Somewhere in hell, i'm still typing.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
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Realmente, Daniel, a bruxa da tua mãe tem razão: v. escreve mto bem e escreverá melhor ainda. Tá no sangue.Continue vivendo! Abraço.
ResponderExcluirDaniel, sei que você nem deve ler esse comentário, mas, caso leia, saiba que sempre vou estar lendo aqui do outro lado. Suas palavras fazem muito sentido quando eu leio, sempre me confortam num momento ruim, sem que isso pareça piegas ou aquela auto-ajuda 'padronizada'. Grande abraço.
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