O ato de escrever transforma o escritor em ficção.
Esse é um fenômeno curioso. De certa forma, engraçado. Talvez aconteça o mesmo com todos os sujeitos que escrevem, não sei. Mas no que me diz respeito, talvez pelo tipo de coisa que escrevo ou pelas palavras que uso, acabo sendo traçado como alguém muito além do que realmente sou. As pessoas lêem os meus textos e me tomam por alguma espécie de sábio-vidente, algum tipo de conselheiro que guarda na manga as palavras certas para os momentos certos. Isso acontece tanto em relação a essas crônicas quanto ao livro e ao site. Pegam-me para ler e falam “ah, agora estou melhor! Esse garoto está certo no que diz!”. E quando me encontram pelas ruas me dão os parabéns e falam que sou um privilegiado, que sou alguém que precisa dizer coisas para as pessoas. É como se os leitores me enxergassem como um cara que sabe lidar com as situações. Estão enganados.
A imagem que brota dos parágrafos está além de mim mesmo. Ela esconde toda a incompreensão por trás de palavras certas. Mas, meu amigo, não tem nada a ver com saber lidar com as situações, nem com esperteza ou vidência ou com qualquer espécie de auto-ajuda. Tem a ver com não saber nada. Tem a ver com se sentir perdido na madrugada, com aguardar duvidoso pela manhã e com não ter as palavras certas. Não há nenhuma espécie de lição nos meus textos, nem nas minhas vivências.
Virei ficção quando comecei a escrever. Agora a ficção é grande demais, forte demais, e eu não entraria numa briga com ela. Perderia feio. Os leitores levam a ficção no pacote das palavras certas. Isso é engraçado, porque a ficção não é o que escrevo, mas como sôo para eles. Ou melhor, o que soa real para eles, eu sei que é ficção.
As pessoas não me vêem vagueando pelas ruas com o coração escapando pela goela. Elas não me vêem perdendo as palavras e ficando em silêncio.
Estou na rua numa noite qualquer, com alguns amigos, apenas tentando me divertir. Caminhamos tranqüilos até que nossas solas já estejam gastas, daí nos sentamos e chegam alguns conhecidos. Este momento poderia definir a minha vida, por qualquer motivo que fosse, mas não encontro as palavras e acabo parecendo um louco ou um chapado (já me passei pelas duas coisas nas mais diversas ocasiões). Engasgo ou simplesmente titubeio. Acabo falando coisas sem importância, parecendo um perfeito molóide. Ninguém entende nada, nem eu mesmo entendo. Aquele momento poderia definir a minha vida, mas acabou não definindo coisa alguma. Isso não é visto pelos leitores. Os leitores não me vêem hesitando nem duvidando. Não me vêem vazio. Eles não estão por perto quando me remôo e me pergunto se fiz a coisa certa ou se esculhambei com tudo. Eles não estão por perto quando saio de casa e começa a chover e acabo pegando uma enchente.
Para eles eu deixo frases e textos. Deixo minhas declarações sobre grandes e pequenas tragédias, canto blues sobre o amor que se parece com um ônibus lotado, falo a respeito de festas, de poesia e de arte, e todos acham que as experiências e os sentimentos são meus melhores amigos. Acham que transformo tudo em alguma coisa positiva, que encontro iluminações no final das coisas, que bebo a dor pelo gargalo.
Meu amigo, não pense assim, não quero te enganar.
Quando me escutar falando sobre meus ídolos, caras como Rimbaud, Kerouac, Morrison, Henry Miller e tantos outros, não me inclua nessa turma. Eles faziam dos mistérios do universo seus amigos. Tinham a alma do herói. Eles sabiam lidar com as situações. Eu apenas me transformo em ficção. Não que seja esta a minha intenção.
Esse é um fenômeno curioso. De certa forma, engraçado. Talvez aconteça o mesmo com todos os sujeitos que escrevem, não sei. Mas no que me diz respeito, talvez pelo tipo de coisa que escrevo ou pelas palavras que uso, acabo sendo traçado como alguém muito além do que realmente sou. As pessoas lêem os meus textos e me tomam por alguma espécie de sábio-vidente, algum tipo de conselheiro que guarda na manga as palavras certas para os momentos certos. Isso acontece tanto em relação a essas crônicas quanto ao livro e ao site. Pegam-me para ler e falam “ah, agora estou melhor! Esse garoto está certo no que diz!”. E quando me encontram pelas ruas me dão os parabéns e falam que sou um privilegiado, que sou alguém que precisa dizer coisas para as pessoas. É como se os leitores me enxergassem como um cara que sabe lidar com as situações. Estão enganados.
A imagem que brota dos parágrafos está além de mim mesmo. Ela esconde toda a incompreensão por trás de palavras certas. Mas, meu amigo, não tem nada a ver com saber lidar com as situações, nem com esperteza ou vidência ou com qualquer espécie de auto-ajuda. Tem a ver com não saber nada. Tem a ver com se sentir perdido na madrugada, com aguardar duvidoso pela manhã e com não ter as palavras certas. Não há nenhuma espécie de lição nos meus textos, nem nas minhas vivências.
Virei ficção quando comecei a escrever. Agora a ficção é grande demais, forte demais, e eu não entraria numa briga com ela. Perderia feio. Os leitores levam a ficção no pacote das palavras certas. Isso é engraçado, porque a ficção não é o que escrevo, mas como sôo para eles. Ou melhor, o que soa real para eles, eu sei que é ficção.
As pessoas não me vêem vagueando pelas ruas com o coração escapando pela goela. Elas não me vêem perdendo as palavras e ficando em silêncio.
Estou na rua numa noite qualquer, com alguns amigos, apenas tentando me divertir. Caminhamos tranqüilos até que nossas solas já estejam gastas, daí nos sentamos e chegam alguns conhecidos. Este momento poderia definir a minha vida, por qualquer motivo que fosse, mas não encontro as palavras e acabo parecendo um louco ou um chapado (já me passei pelas duas coisas nas mais diversas ocasiões). Engasgo ou simplesmente titubeio. Acabo falando coisas sem importância, parecendo um perfeito molóide. Ninguém entende nada, nem eu mesmo entendo. Aquele momento poderia definir a minha vida, mas acabou não definindo coisa alguma. Isso não é visto pelos leitores. Os leitores não me vêem hesitando nem duvidando. Não me vêem vazio. Eles não estão por perto quando me remôo e me pergunto se fiz a coisa certa ou se esculhambei com tudo. Eles não estão por perto quando saio de casa e começa a chover e acabo pegando uma enchente.
Para eles eu deixo frases e textos. Deixo minhas declarações sobre grandes e pequenas tragédias, canto blues sobre o amor que se parece com um ônibus lotado, falo a respeito de festas, de poesia e de arte, e todos acham que as experiências e os sentimentos são meus melhores amigos. Acham que transformo tudo em alguma coisa positiva, que encontro iluminações no final das coisas, que bebo a dor pelo gargalo.
Meu amigo, não pense assim, não quero te enganar.
Quando me escutar falando sobre meus ídolos, caras como Rimbaud, Kerouac, Morrison, Henry Miller e tantos outros, não me inclua nessa turma. Eles faziam dos mistérios do universo seus amigos. Tinham a alma do herói. Eles sabiam lidar com as situações. Eu apenas me transformo em ficção. Não que seja esta a minha intenção.
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