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Uma alma morta porém ressuscitada. Um soldado maníaco com uma metralhadora que cospe fogo e palavras. E nas guerras das palavras eu sou veterano. Eu sou o homem-tigre. Somewhere in hell, i'm still typing.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Todo mundo faz alguma coisa

A festa ia começar e eu não estava me sentindo muito bem. Meus amigos estariam lá. Eu precisava ir. Algo maravilhoso poderia acontecer, então acabei me arrumando e saindo. Essa é a grande esperança de todas as festas, de todos aqueles que se olham no espelho lá pelas oito da noite e suspiram desanimados: algo maravilhoso pode acontecer.
Não sabia quem era o dono da casa em meio à multidão, mas isso não foi empecilho; nas festas isso nunca é um empecilho. Recostei-me numa estante, procurando por amigos, com a cabeça girando e o estômago embrulhado. Realmente não estava me sentindo muito bem. Naquele momento, o jantar e a sobremesa sacolejavam na minha barriga. Desejava estar em casa, na cama.
Algumas pessoas me reconheciam e gritavam “ei, Daniel!”, e então acenavam e sumiam na multidão, outras passavam por mim e me cumprimentavam e davam tapinhas nas minhas costas e sumiam na multidão. Nas festas, o melhor que você pode fazer é sumir na multidão. Era o que eu faria, se não estivesse me sentindo como uma lesma esmagada. Abri a janela e procurei respirar ar puro. Aquilo me acalmava e melhorava o meu ânimo, promovendo-me de lesma esmagada para sapo atropelado.
Agora me deixa contar um detalhe importante a respeito da festa. Não havia bandas tocando, o que de certa forma era um alívio, porque quando se está a ponto de vomitar o jantar no tapete, tudo o que não se precisa é de uma banda tocando ao vivo. Por outro lado, tinham colocado caixas de som por todo o lugar, o que transformava a sala numa verdadeira bomba atômica de rock’n roll. Eu gostava da música e do volume, mas não gostava do efeito que estava causando no meu estômago.
Não conseguia achar nenhum dos meus amigos. Tínhamos combinado um encontro na festa e, no entanto, eu estava sozinho. Quer dizer, a sala estava cheia de conhecidos, mas nenhum dos meus amigos mais chegados estava por lá. Isso fez com que me sentisse pior. Escancarei a janela e debrucei meu rosto para o lado de fora, respirando o poluído ar noturno, enquanto a paisagem girava.
Uma garota loira recostou na estante, segurando uma lata de cerveja. Eu não a conhecia, mas sabia que conhecê-la não seria difícil. Então ela me olhou e disse “oi”. Ofereceu um pouco de cerveja e eu recusei. Não falei pra ela que não bebo, apenas recusei. A garota vestia uma camiseta dos Ramones. Vestia essa camiseta e mantinha os cabelos loiros caindo pelos ombros. Era uma punk rock girl. Olhei para a rua e cogitei se ainda daria tempo de pegar o último ônibus. Não, não adiantava me desesperar. Eu estava perdido e com enjôo.
_ Você toca guitarra? – ela perguntou.
Olhei pra ela, meio tonto e amarelo, e disse “não”. Então ela perguntou o que eu tocava e respondi que não tocava nada.
_ Você tem cara de quem toca alguma coisa – ela disse.
_ Pois é, mas não toco.
A garota parecia não acreditar no meu papo e não posso culpá-la por isso; minhas palavras não estavam soando muito bem. Eu não estava nos meus melhores dias.
_ O que você faz? – ela quis saber.
_ Nada.
_ Todo mundo faz alguma coisa.
_ Eu não faço nada.
Ela avistou um grupo de amigas e correu na sua direção. Era bonita, essa garota. Eu tinha perdido a parada, tudo por causa de algumas palavras e um enjôo. É, não estava me sentindo muito bem.
Lá pelo final da noite, não me contive. O jantar subiu pela minha garganta e ameaçou jorrar bem no meio da festa. Corri para o banheiro e me tranquei. Olhei para o meu reflexo no fundo da privada, sentindo-me novamente como uma lesma esmagada. Lá fora, as caixas de som tocavam The Clash.

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