Costumo andar sem rumo pelas ruas de Friburgo. Gosto de fazer isso porque as pessoas não sacam que eu sou um escritor. Melhor assim. Elas tornam-se nojentas quando descobrem que você faz alguma coisa, alguma coisa além de vegetar, quero dizer. Gosto de observar os seus rostos me observando por detrás das vitrines e das janelas, como se eu fosse a droga de um andarilho vagabundo ou qualquer coisa assim. Na verdade esse é o grande problema de Friburgo: o seu formato circular. A cidade não ajuda aqueles que desejam apenas vagabundear por aí, caminhando de um lado para o outro, pois não existem muitos lugares onde se possa fazer isso. No final, você acaba perambulando eternamente pelas mesmas ruas, o que faz com que você fique extremamente exposto e se passe por um desocupado. E no fundo é isso o que eu sou, um moleque desocupado, que não se preocupa com a faculdade e com todo aquele papo de futuro, e que escreve uma ou outra coisinha nas horas vagas. Um moleque desocupado de 26 anos, cansado de acordar nas manhãs ensolaradas de tédio, sem absolutamente nada para dizer.
À noite passada foi um pouco diferente, pois encontrei esse cara, um completo idiota parado na frente de um pequeno pub que não vou citar o nome por razões óbvias. Eu estava parado por lá, esperando por um bando de amigos, e pude notar que o sujeito me olhava fixo, com um sorriso idiota nos lábios. Aquilo começou a me incomodar, mas não falei nada, apenas continuei onde estava, esperando pelos meus amigos.
Depois de alguns minutos me observando o cara se aproximou e disse, “você é o escritor, não é?”. Olhei para ele e procurei aparentar uma falsa confusão mental, e então lhe disse, “como é que é?”.
_ O cara que escreveu o livro que tão anunciando por aí!
Ele estava obviamente querendo tomar todo o meu tempo.
Não sou do tipo que gosta de iniciar conversas com desconhecidos, então apenas falei que eu era um estudante universitário sem um futuro brilhante no mundo acadêmico. Ele não desistiu e falou mais alto: “Tá legal, mas você escreveu o tal do livro que eu li no jornal!”
_ Escrevi_ eu disse desanimado.
E foi então que o imbecil se tornou um exímio imbecil, colocou os braços ao redor dos meus ombros e me encaminhou na direção onde estavam os seus amigos, sempre gritando coisas do tipo “esse aqui é escritor!” e blá blá blá. Apresentou-me um a um aos seus amigos e me despejou todas as congratulações que sua mente pequena conseguiu formular.
Eles me fitavam, o grupo de amigos de rostos vermelhos e inchados, sorrindo feito uma matilha de palhaços. Todos eles esperando que eu lhes dissesse alguma coisa brilhante, mas eu não tinha nada brilhante para dizer. Tudo o que conseguia pensar era na minha vida de moleque desocupado, e em como eles estavam enganados a meu respeito, a respeito de todos os escritores, todos os artistas. Na verdade a arte é constituída inteiramente de moleques desocupados sem nada de brilhante para dizer.
Quando um deles me pediu um poema, resolvi tirar um sarro e declamei a melhor coisa que consegui pensar:
Ele se suicidou
numa quarta-feira à tarde.
Deixou um bilhete
em cima da cabeceira,
onde se lia:
não suportei
minhas hemorróidas.
Nem te digo o prazer que me deu em ver aquelas caras sérias, repletas de dúvidas, sem palavras, decepcionadas por eu ter acabado com as suas expectativas literárias. Aquilo era ótimo! A melhor coisa que me acontecera na droga da noite!
Os amigos esboçaram um sorrisinho amarelo e falaram que o poema era legal, meio que por educação. Embora o poema (poema???) fosse de minha autoria, eu lhes disse que Shakespeare tinha escrito o negócio, só para frustrar-lhes ainda mais.
Finalmente estava livre dos imbecis, e não demorou para que a galera que eu esperava chegasse. Respirei aliviado.
Saímos dali e perambulamos pelas ruas. Quando um deles me perguntou se eu tinha ido ao show do The Doors, eu disse que não, porque nesse dia estava lançando um livro.
À noite passada foi um pouco diferente, pois encontrei esse cara, um completo idiota parado na frente de um pequeno pub que não vou citar o nome por razões óbvias. Eu estava parado por lá, esperando por um bando de amigos, e pude notar que o sujeito me olhava fixo, com um sorriso idiota nos lábios. Aquilo começou a me incomodar, mas não falei nada, apenas continuei onde estava, esperando pelos meus amigos.
Depois de alguns minutos me observando o cara se aproximou e disse, “você é o escritor, não é?”. Olhei para ele e procurei aparentar uma falsa confusão mental, e então lhe disse, “como é que é?”.
_ O cara que escreveu o livro que tão anunciando por aí!
Ele estava obviamente querendo tomar todo o meu tempo.
Não sou do tipo que gosta de iniciar conversas com desconhecidos, então apenas falei que eu era um estudante universitário sem um futuro brilhante no mundo acadêmico. Ele não desistiu e falou mais alto: “Tá legal, mas você escreveu o tal do livro que eu li no jornal!”
_ Escrevi_ eu disse desanimado.
E foi então que o imbecil se tornou um exímio imbecil, colocou os braços ao redor dos meus ombros e me encaminhou na direção onde estavam os seus amigos, sempre gritando coisas do tipo “esse aqui é escritor!” e blá blá blá. Apresentou-me um a um aos seus amigos e me despejou todas as congratulações que sua mente pequena conseguiu formular.
Eles me fitavam, o grupo de amigos de rostos vermelhos e inchados, sorrindo feito uma matilha de palhaços. Todos eles esperando que eu lhes dissesse alguma coisa brilhante, mas eu não tinha nada brilhante para dizer. Tudo o que conseguia pensar era na minha vida de moleque desocupado, e em como eles estavam enganados a meu respeito, a respeito de todos os escritores, todos os artistas. Na verdade a arte é constituída inteiramente de moleques desocupados sem nada de brilhante para dizer.
Quando um deles me pediu um poema, resolvi tirar um sarro e declamei a melhor coisa que consegui pensar:
Ele se suicidou
numa quarta-feira à tarde.
Deixou um bilhete
em cima da cabeceira,
onde se lia:
não suportei
minhas hemorróidas.
Nem te digo o prazer que me deu em ver aquelas caras sérias, repletas de dúvidas, sem palavras, decepcionadas por eu ter acabado com as suas expectativas literárias. Aquilo era ótimo! A melhor coisa que me acontecera na droga da noite!
Os amigos esboçaram um sorrisinho amarelo e falaram que o poema era legal, meio que por educação. Embora o poema (poema???) fosse de minha autoria, eu lhes disse que Shakespeare tinha escrito o negócio, só para frustrar-lhes ainda mais.
Finalmente estava livre dos imbecis, e não demorou para que a galera que eu esperava chegasse. Respirei aliviado.
Saímos dali e perambulamos pelas ruas. Quando um deles me perguntou se eu tinha ido ao show do The Doors, eu disse que não, porque nesse dia estava lançando um livro.
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