Quem sou eu

Minha foto
Uma alma morta porém ressuscitada. Um soldado maníaco com uma metralhadora que cospe fogo e palavras. E nas guerras das palavras eu sou veterano. Eu sou o homem-tigre. Somewhere in hell, i'm still typing.

domingo, 17 de maio de 2009

THE LAST DANCE

Acordei num dia de despedidas. Acho que é coisa do fim do ano. Ele faz isso com a gente, despede-se. E transforma tudo em despedida. Não sei, mas acho que a maioria das pessoas consegue lidar com o calendário simplesmente se escondendo detrás dos presentes de natal, das luzes das vitrines e dos planos para as férias.
No entanto, o tempo passa como um tufão, desalinhando os cabelos, gritando nas primeiras horas da manhã, quando abro os olhos e me dou conta de quantas coisas já passaram! E esse texto é sobre o tempo. E sobre o fim do ano. E sobre as despedidas. Elas estão presentes quando pensamos no tempo. Estão presentes quando desembrulhamos presentes com o estômago embrulhado. O tempo com suas despedidas é um eterno gosto amargo. E escuto sua voz cada vez que entro num shopping center ao som de uma canção de natal.
Assim que percebemos o tempo sobre nossas cabeças, deslizando pelo ar dos desavisados, desistimos de planejar as férias. Porque quando existe o tempo, tudo é uma perda de tempo. O tempo é uma perda de tempo. É um soco no queixo. É quando você acorda suado no final de semana e abre a janela e procura não olhar para as ruas que conhece, por saber que não vai encontrar ninguém.
No fim do ano tudo fica um pouco mais intenso. A respeito do tempo, quero dizer.
As despedidas nos fazem correr, como se estivéssemos andando numa corda bamba ou num trilho de trem. Todos se despedem, apertam as mãos e dizem “até outra vez”; compram suas passagens, pegam seus diplomas, e crescem. Crescem, confundindo o amadurecimento com o simples e banal envelhecimento. E não estou falando de mim, nem de você que está me lendo agora, com a barba por fazer de um dia de sábado e os olhos pesados de uma semana passada. Não, estou falando de todos nós. De nós que nos despedimos e nos abraçamos, sem saber para onde vamos. Apenas seguindo o vento sorrateiro do tempo.
É por isso que agradeço por me chafurdar em notas finais. Desde a época do colégio é assim, fico pendurado nessas notas. Com a faculdade não é diferente. Mas acho que há males que vêm para o bem.
Não me ocupo com as despedidas quando estou me desesperando com conceitos e doutrinas dentro de um quarto, numa tarde de calor. Apenas as escuto, enquanto Jim Morrison canta Light My Fire no aparelho de som. Ele é a lembrança do tempo no meu quarto, porque está morto e continua cantando. Talvez seja a constatação das despedidas, ou apenas mais um antigo hit das paradas de sucesso. Seja como for...
Então, como estava dizendo, acordei num dia de despedidas, sentindo-me fraco, com a língua pesada dentro da boca e escutando tosses por todos os lados. E isso me irritou. A maneira como os dias atravessam os anos, calados, despedindo-se de todos. O modo como o tempo ludibria os pobres filhos de Deus escondidos em suas tocas e afazeres. E senti vontade de rir ao me lembrar daquela imagem das três velhas gregas, aquelas que nasciam velhas e gargalhavam, meio loucas, revezando um único olho e um único dente. Esses gregos sabiam das coisas. Dariam grandes humoristas, mas acabaram tornando-se filósofos. Foi mais fácil.
Decidi que não vou mais acordar nas manhãs de despedidas. Não vou me despedir de nada, nem de ninguém. O fim do ano não termina com coisa alguma, não nos leva para lugar algum. O fim do ano é apenas mais um dia em que dizemos tchau, planejamos feriados, desaparecemos no horizonte, recebemos diplomas, nadamos na praia, mergulhamos no futuro e nos desesperamos. Então, feliz natal antecipado para todo mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário